A história das ferrovias no Brasil começou em 30 de abril de 1854, com a inauguração da Estrada de Ferro Petrópolis por D. Pedro II. Este primeiro trecho ligava Porto Mauá a Fragoso, no Rio de Janeiro, com 14 km de extensão. A ligação ferroviária até Petrópolis, transpondo a Serra do Mar, só foi completada em 1886.

Esse meio de transporte marcou para sempre as gerações que conviveram com ele. “Não era simplesmente um meio de transporte. O trem pontuava a vida cotidiana dos friburguenses, a exemplo do ‘vassourinha’, o último trem que trafegava pelo centro de Nova Friburgo em direção a Sumidouro. Levou essa alcunha, pois varria as moças da rua quando passava obrigando-as a se recolherem em suas residências já que a moralidade não permitia que mulheres decentes ficassem pela rua.” afirma Janaí­na Botelho.

Em São João del Rei (MG), o Museu Ferroviário preserva a história da Estrada de Ferro Oeste de Minas, criada em 1872. Inicialmente, ela ligava Sítio (atual Antônio Carlos) à Estrada de Ferro D. Pedro II (depois Central do Brasil), estendendo-se posteriormente a outras cidades e ramais. Em 1894, seu percurso totalizava 684 km, sendo considerada a primeira ferrovia brasileira de pequeno porte.

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A implantação de ferrovias no Brasil enfrentou muitos desafios. Para atrair investidores, o governo adotou um sistema de concessões, característica da política de infraestrutura do período imperial. No final do século XIX e início do século XX, investimentos estrangeiros, especialmente britânicos, impulsionaram a construção de linhas férreas.

A expansão ferroviária buscava não só a entrada de capital estrangeiro, mas também o incentivo à economia exportadora. As primeiras linhas conectavam centros de produção agrícola e de mineração aos portos, superando obstáculos à navegação fluvial. Diversos planos foram elaborados para integrar a malha ferroviária, mas nenhum teve sucesso pleno devido à política de concessões do governo brasileiro.

Declínio e Abandono

Após o início das ferrovias no Brasil, o país viu uma expansão significativa até meados de 1919, quando a malha ferroviária atingiu 28.128 quilômetros. No entanto, os conflitos internacionais, como as duas guerras mundiais (1914-1918 e 1939-1945), impactaram os investimentos globais, incluindo no Brasil.

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A partir dos anos 1930, durante o primeiro mandato de Getúlio Vargas, o foco do governo brasileiro mudou para o desenvolvimento das rodovias. Vargas priorizou fortemente o investimento em infraestrutura rodoviária, o que resultou na estagnação das ferrovias. Esse período de negligência para com as ferrovias impediu sua expansão e desenvolvimento.

Nos anos 1960, sob o governo de Juscelino Kubitschek, as ferrovias brasileiras experimentaram um breve ressurgimento e atingiram seu auge em quilometragem. No entanto, essa fase foi curta. Com a chegada dos governos militares, a expansão ferroviária voltou a declinar, e muitas linhas foram abandonadas e sucateadas. Durante o período militar, a infraestrutura rodoviária continuou a ser expandida, consolidando-se como o principal meio de transporte de cargas no país, enquanto as ferrovias ficaram em segundo plano.

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Programa de desestatização

A história das ferrovias no Brasil começou a tomar novos rumos nos anos 1990, quando o governo implementou um programa de desestatização das malhas ferroviárias. Esse programa transformou as linhas em público-privadas, concedendo o controle das operações ao setor privado por meio de concessões. Isso marcou uma mudança significativa, permitindo maior autonomia e incentivando investimentos privados no setor ferroviário.

Atualmente, todas as linhas de transporte de cargas no Brasil são concessionadas. Empresas de logística como Vale, VRS Logística, VLI Logística e Rumo operam as principais ferrovias do país. A malha ferroviária brasileira consiste em 13 linhas, totalizando 30.485 km de extensão, o maior número desde a expansão dos anos 1960.

Investimentos no setor ferroviário estão crescendo, tanto por parte do governo quanto da iniciativa privada. Nos próximos anos, são previstos novos investimentos para a criação de novas linhas e melhorias das vias existentes, totalizando valores na casa dos bilhões. Dessa forma, as ferrovias estão retomando sua importância no transporte de cargas e no abastecimento dos portos nacionais.

Patrimônio Ferroviário

A Lei 11.483, de 31 de maio de 2007, atribuiu ao Iphan a responsabilidade de receber e administrar os bens móveis e imóveis de valor artístico, histórico e cultural, oriundos da extinta Rede Ferroviária Federal SA (RFFSA), bem como zelar pela sua guarda e manutenção. Desde então o Instituto avalia, dentre todo o espólio oriundo da extinta RFFSA, quais são os bens detentores de valor histórico, artístico e cultural.

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O patrimônio ferroviário oriundo da RFFSA engloba bens imóveis e móveis, incluindo desde edificações como estações, armazéns, rotundas, terrenos e trechos de linha, até material rodante, como locomotivas, vagões, carros de passageiros, maquinário, além de bens móveis como mobiliários, relógios, sinos, telégrafos e acervos documentais. Segundo inventário da ferrovia, são mais de 52 mil bens imóveis e 15 mil bens móveis, classificados como de valor histórico pelo Programa de Preservação do Patrimônio Histórico Ferroviário (Preserfe), desenvolvido pelo Ministério dos Transportes, instituição até então responsável pela gestão da RFFSA.

Fonte: Foto do Arquivo Nacional do Brasil


A gestão desse acervo constitui uma nova atribuição do Iphan e, para responder à demanda, foi instituída a Lista do Patrimônio Cultural Ferroviário, por meio da Portaria Iphan nº 407/2010, com 639 bens inscritos até 15 de dezembro de 2015. Para inscrição na Lista, os bens são avaliados pela equipe técnica da Superintendência do Estado onde estão localizados e, posteriormente, passam por apreciação da Comissão de Avaliação do Patrimônio Cultural Ferroviário (CAPCF), cuja decisão é homologada pela Presidência do Iphan.


Os bens não operacionais são transferidos ao Instituto, enquanto bens operacionais continuam sob responsabilidade do DNIT, que atua em parceria com o Iphan visando à preservação desses bens. Esse procedimento aplica-se, exclusivamente, aos bens oriundos do espólio da extinta RFFSA. Os bens que não pertenciam à Rede, quando de sua extinção, não são enquadrados nessa legislação, podendo, entretanto, ser objeto de Tombamento (Decreto Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, aplicado a bens móveis e imóveis), ou ao Registro (Decreto nº 3.551, de 4 de agosto de 2000, aplicado ao Patrimônio Cultural Imaterial).

Ferrovias Privatizadas

O Brasil possui 13 malhas regionais privatizadas, operadas por concessionárias privadas ou empresas públicas de capital aberto como a VALEC – Engenharia, Construções e Ferrovias S.A.. As ferrovias privatizadas são:

  • Ferrovia Tereza Cristina;
  • Estrada de Ferro Paraná Oeste;
  • Rumo Malha Norte;
  • Ferrovia Norte Sul (trama norte);
  • Ferrovia Norte Sul (trama central);
  • Estrada de Ferro Vitória a Minas;
  • Estrada de Ferro Carajás;
  • MRS;
  • Rumo Malha Oeste;
  • Rumo Malha Paulista;
  • Ferrovia Transnordestina;
  • Ferrovia Centro-Atlântica; e
  • Rumo Malha Sul.

Fonte